Saúde

Musicoterapia ajuda a tratar deficiências

Técnica é procurada para auxiliar no processo de recuperação de funções ou promoção do desenvolvimento

A música é uma forma de arte que provoca sensações de bem-estar, nostalgias, sentimentos, além de poder auxiliar no tratamento de doenças e deficiências. Neste sentido, criou-se um campo de estudo chamado “Musicoterapia”, uma ferramenta que utiliza sons, ritmos, melodias e harmonias, com o objetivo terapêutico de atuar na comunicação, expressão e aprendizagem.

Atualmente, a técnica é procurada para auxiliar no processo de recuperação de funções em caso de lesões cerebrais ou promoção do desenvolvimento, restaurando a saúde humana e gerando uma maior qualidade de vida. A terapia pode servir de crianças a idosos, podendo ser uma prática que tanto os pacientes como o profissional podem tocar os instrumentos e produzir sons, ou receberem estímulos sonoros produzidos pelo musicoterapeuta.

Segundo Jamile Chastinet, neuropsicóloga e sócia do Instituto Lúria, em Salvador, as pessoas comumente dão mais importância ao desenvolvimento da escrita e da leitura, desconsiderando a música como uma ferramenta cultural rica para o funcionamento cerebral.

“A música, assim como a leitura e a escrita, é uma das poucas atividades que envolvem quase todo o cérebro e suas funções, solicitando o funcionamento cognitivo desde a percepção e captação do som até as respostas motoras e emocionais. A musicoterapia é uma área de atuação profissional que pode garantir esse favorecimento e ampliação das capacidades cognitivas”, afirma.

Alguns estudos mostram que o córtex é uma área altamente influenciada pelas experiências musicais. De acordo com a neuropsicóloga, os teóricos associam o córtex auditivo primário, como receptor das informações auditivas, capaz de receber os sons e tons musicais. Já as áreas auditivas secundárias e de associação, se supõe que há o processamento dos padrões musicais mais complexos, como harmonia, melodia e ritmo.

“Assim, consideram que aprender a tocar um instrumento faz com que haja uma reorganização de diversas áreas cerebrais como as áreas motoras, o corpo caloso e o cerebelo. Existem também os estudos que analisam a diferença da participação de cada um dos hemisférios cerebrais, considerando que o lado esquerdo do cérebro parece processar elementos básicos como intervalos musicais e ritmos ao passo que o lado direito se relaciona com o reconhecimento de características como a métrica e contorno melódico”, explicou.

A profissional também explicou como a música se torna importante no desenvolvimento da atenção. A musicoterapia pode trazer uma percepção mais ampla, além de atuar como estratégias de atenção em um bebê.

“A percepção estimulada pela música pode favorecer a distinção dos aspectos relevantes e ignorar os irrelevantes, favorecendo principalmente, neste caso, a atenção concentrada. Outra habilidade cognitiva que é bastante descrita na literatura como resultado favorável do aprendizado da música é a velocidade do processamento cognitivo que apresenta maiores resultados em sujeitos que tiveram estimulação com a música”, disse.

A neuropsicóloga já trabalhou com pacientes de diferentes diagnósticos e citou um caso em que a musicoterapia foi capaz de melhorar a qualidade comunicativa da pessoa.

“De modo particular, é possível citar um caso de uma paciente surda oralizada, que apresenta dificuldade na articulação de fonemas específicos. Meu trabalho com ela, em intervenção neuropsicológica, é direcionado para as funções executivas. A melhoria na qualidade comunicativa repercutiu diretamente no funcionamento dela como um todo e consequentemente sobre o processo de intervenção que realizo com ela”, comentou.

Musicoterapeuta

Cantor, professor de música e musicoterapeuta, Peu Alves oferece sessões para crianças, adultos e idosos. Em suas experiências, ele já trabalhou com alunos com Síndrome de Down, Síndrome de Turner, Autismo, Parkinson, Alzheimer e TDAH. Ele explicou que o tratamento da musicoterapia traz equilíbrio, mais ritmo e mais compreensão de tempo.

“O TDAH, por exemplo, digamos que é um instrumento desafinado e não afina porque não está na frequência certa. Então, a gente afina a pessoa na musicoterapia, a ponto de que, o ritmo entre a conexão dos órgãos, entre a fala, entre o que se pensa e o que se fala, entre o que se pensa e se anda, age, esse ritmo começa a ganhar mais harmonia, mais tempo”, disse.

O musicoterapeuta tem uma frequência maior de sessões para crianças de 3 anos, nas quais procura desenvolver mais o campo lúdico dos pequenos.

“Eles têm uma conexão muito grande com a musicalidade. A música é uma linguagem que a gente consegue se comunicar, principalmente com os não verbais. É um processo que eu os vejo desenvolverem falas, desenvolver motricidade. O bater o pandeiro quem era apático. Se nota a criança com mais presença, mais contato visual, com mais tempo rítmico de resposta, de ação, se organiza melhor, articula melhor, tanto o corpo quanto as palavras”, contou.

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